A Bailarina Solitária
Texto Eloy JR
Ilustração Rick Alvez

A Bailarina Solitária
"Nada é impossível, seja sempre você mesmo."
Meu nome é Daniel, tenho vinte e cinco anos, vivo nas
noites visitando os bares e os botecos da cidade, cantando
e tocando o meu violão em troca de alguns trocados para
sobreviver.
Aqui de cima, desse pequeno palco enquanto canto
a minha canção, observo pessoas de todo o tipo e cultura
no ambiente, e poucos prestam atenção na minha música
e no que desejo dizer através dela. Muitos estão aqui para
beber, paquerar e esquecer a semana sofrida de trabalho que
tiveram. Noto que lá no fundo uma garota sozinha me observa
com tristeza, pensativa, com um jeito de menina sensível.
Terminando o meu show, percebi que poucos
aplaudiram, mas eu não me importo, o que realmente importa
é que fiz minha parte com a minha arte. Então, desci do
pequeno palco, caminhei até o bar e pedi uma cerveja, andei
um pouco para conhecer o ambiente e não resisti, fui em
direção a garota que estava sozinha e solitária.
Enquanto caminhava até ela, dentro de mim uma voz
suspirou: "Ela precisa de você". Olhei para ela, pedi licença e
me apresentei, percebi que o olhar dela estava triste. ─ Senta! Parabéns pelo show! - me elogiou com
ternura.
─ Obrigado! - respondi, oferecendo uma cerveja.
─ Eu não bebo, muito obrigada.
─ Porque você esta aqui, onde estão seus amigos? -
perguntei com curiosidade.
─ Não tenho amigos! - respondeu ela com um ar
tristonho.
─ Como não?! - eu disse a ela um tanto surpreso.
─ Eu queria ser como você! Vivendo nas noites
fazendo o que gosta e é feliz. Posso ver isso em seus olhos.
- me disse ela, com admiração.
─ Imagina, não a nada de especial na minha vida. Ela
não é fácil como parece, apenas procuro fazer o que amo. -
respondi.
─ Estou cansada sabe Daniel? Eu tenho um sonho e
meus pais são contra ele, vivem me atrapalhando nas coisas
que me fazem feliz. Querem que eu seja como eles, e ambos
têm medo de que eu suma da vida deles, seguindo a carreira
como bailarina. - me confidenciou aquela jovem com um
longo suspiro.
─ Sei o que você esta passando! ─ Como assim você sabe? - me perguntou a garota.
- Minha família é contra a minha paixão pela música.
Por isso, não moro com os meus pais, precisei sair de casa
para buscar o meu sonho e a minha realidade. Meus pais
me odeiam por isso, dizem até que os abandonei, é o que
eles pensam. Mas não fiz isso de propósito para magoá-los,
apenas estou vivendo como desejo.
─ Nossa você fugiu de casa! - ela exclamou.
─ Não, mas eu precisei sair de lá, não aguentava ver
os meus pais me atrapalhando, só para você ter uma noção,
meu pai chegou a queimar o meu violão. - confidenciei a ela.
─ Nossa você parece tão alegre, canta muito bem, e
não imaginava que tivesse esse tipo de problema.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, pensei em tudo o
que passei e tenho passado.
─ Garota, a vida não é fácil, mas se torna mais difícil
e dolorosa se não a enfrentamos. O meu sonho é ser um
grande artista, e se eu conseguir realizá-lo serei uma pessoa
realizada, mas se eu não conseguir estarei satisfeito do
mesmo jeito, porque tentei, lutei, batalhei e não fiquei parado
arrumando desculpas. Precisamos de coragem para realizar
nossos sonhos. - a adverti com firmeza nas palavras.
A garota ficou pensativa, olhou para mim e agradeceu
com um sorriso encantador! ─ Obrigada! Eu precisava ouvir essas palavras.
─ Você só tem um caminho para ser feliz, siga o seu
coração, viva o que deseja o seu eu interior. - aconselhei ela.
Então, uma lágrima escorreu dos olhos daquela garota
solitária, e ao mesmo tempo levantou e olhou para mim, abriu
um sorriso e gritou:
─ Você me ajudou, Daniel! Muito obrigada!
Me assustei com o grito dela, até deixei escapar uma
risada.
A garota saiu correndo e fiquei ali parado, sem
entender a reação daquela bela garota solitária.
Muitos anos se passarão desde então, e hoje estou
aqui, sentado na minha sala assistindo televisão com o meu
violão na mão, sozinho, acompanhado de minhas canções.
Não me tornei um artista famoso como sonhava, mas sou
feliz por ter lutado durante toda a jornada, e também fico
muito feliz quando ligo a televisão e me deparo com a visão
de uma grande bailarina solitária, que realizou o seu sonho e
superou os seus próprios obstáculos, servindo de exemplo e
inspiração para todos que acreditam em seus sonhos
Contos
A montanha esverdeada ( Eloy Artes)
Avisto da janela do meu quarto, uma enorme montanha. Ela é toda esverdeada, com pássaros sobrevoando-a, animais pastando e um belo sol a raiar sobre toda natureza de Deus.
Meus pensamentos voam ao tempo, fazendo lembrar-me de tempos que não voltam mais. Tempos que ficaram para trás.
Meu cigarro queima, caindo as cinzas sobre meus pés descalço e tomando um delicioso vinho ao som de uma bela música clássica em um dia de poesia.
Minha filha me pergunta:- Pai, o que pensas olhando, tanto para a montanha?
- Filha! A montanha esverdeada tem um grande significado para minha vida!
- Me conta pai, gostaria de saber?
- A montanha esverdeada representa todos os meus sonhos. Sempre que buscava um objetivo na vida, ficava a imaginar uma bela montanha esverdeada, como essas que existem aqui na região; e seguia meu caminho, e em cada passo, e a cada momento, desviava e ultrapassava obstáculos, sempre pensando e imaginando estar cada vez mais perto da montanha.
- Nossa pai que lindo! Vou desenhar uma bela montanha esverdeada no papel, e lá escrever o meu sonho, percorrendo meu caminho até a montanha...
Minha filha saiu do quarto, e ao som da música clássica, continuei saboreando meu delicioso vinho.
Olhando a montanha esverdeada mais um sonho avistei.
Memórias de um sonhador ( Eloy artes)
Como sinto saudades daquele tempo... Tudo era tão mágico! A vida bela e florida que encantava meus olhos e, sem medo, corria pelas ruas do meu bairro, brincando de esconde-esconde, pega-pega, bolinha de gude, além de soltar pipas. São estes momentos mágicos que estão guardados em minha memória. Eu, um menino sonhador, que vivia com a cabeça nas nuvens.
O tempo era lento. Um dia era uma eternidade. Acordava cedo para estudar. Como era chato e, ao mesmo tempo, muito gostoso acordar com a mamãe tocando meu corpo e dizendo: "Filho, levanta para ir à escola!"
Porém, a saudade maior é aquela de tomar aquele chá com farinha de milho que ela preparava, correr, pegar a mochila e caminhar até a escola, onde ficava, com a cabeça nas nuvens enquanto a professora falava. Eu ficava olhando pela janela e imaginando... Conseguia até enxergar dinossauros passando pela rua. Meu caderno era todo rabiscado e tinha desenhos por toda parte: casas, cachorros, gatos, pássaros, pessoas e, especialmente, dinossauros. Como adorava desenhar dinossauros!
Lembro-me um dia que um menino queria me bater na escola; foi engraçado e ao mesmo tempo assustador, pois eu era muito medroso. Precisei lhe pagar salgadinhos, evitando levar uns sopapos. Hoje dou risadas quando me lembro, de como era bundão. Gostava de viver no meu mundo, pois acreditava que o mundo de fora era ameaçador.
As tardes eram mágicas! Assistia desenhos animados nos programas infantis, tomava uma deliciosa limonada que mamãe me preparava e, quando adormecia, era algo inexplicável, como se eu sentisse o meu corpo flutuar, assim como uma pluma ao vento, suave, que em dias poéticos da natureza de Deus, nos faz acreditar que existe muito mais na vida e em todo o universo que possamos imaginar.
A vida é preciosa e somos pérolas diante dela. Acredito que Deus, nosso Grande Artista, nos fez com muito amor e carinho, tanto amor que nos deu a liberdade. O nosso livre arbítrio. E nos ama, como um artista ama sua obra, sua criação, sua vida. Ah, como é bom sentar aqui na varanda, na minha confortável cadeira, e refletir sobre a minha vida!
Estamos ligados uns aos outros, conectados de corpo, alma e espírito. A poesia da vida está em tudo: nas uniões entre famílias, amigos, parentes e em todo relacionamento, seja de amor, seja de ódio.